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domingo, 16 de outubro de 2011

Fim de uma viagem



Sentado no desconforto, de costas para o futuro, observo o caminho que vai ficando para trás, num turbilhão de imagens e sons desconexos.
 Um arrastamento de tudo e nada inunda-me os olhos e sufoca-me. O aperto no peito é demasiado. Troco de lugar. O desconforto é o mesmo. Mas já não vejo o caminho que percorri.
 Vejo o horizonte para onde me dirijo. Espero, na ânsia de uma criança, que o torpor desvaneça e que tudo faça mais sentido. Puro engano.
 Atravesso um túnel escuro, apenas sons cavernosos, rangeres e estalos. Nenhuma imagem.
 Somente a estranha sensação de claustrofobia, um mundo inteiro a implodir, sugado para o meu peito. Questiono-me até que ponto o meu esterno conseguirá suster os milhões de toneladas de massa negra que giram em meu redor. Fechar os olhos de pouco adianta. A treva é a mesma, a sensação é a mesma.
 Preso dentro do túnel sem fim, sem nenhuma luz, por mais ínfima, para me aquecer a alma. Penso no que fiz e no que disse, no que ganhei e no que perdi e chego à conclusão insossa que deixei coisas por fazer e por dizer, ganhei menos que perdi e perdi menos do que poderia ter ganho.
 Um resultado medíocre de uma viagem curta. Mas prontamente surge a luz no fundo do túnel. Não uma luz brilhante, calorosa, tranquilizante. Não. Uma luz esbatida, seca. Saído do túnel, o futuro está ali, à distância de uma carruagem.
 O comboio pára. A última estação. A última paragem.
 Meto a mochila às costas curvadas e finalmente saio do comboio. Inspiro o ar fresco, descobrindo que de fresco não tem nada. Olho à minha volta e vejo uma estação igual a todas as outras. Tudo igual. Nada muda. As coisas não mudam.
 Tudo é uma repetição, uma reciclagem, uma redundância de uma redundância.
 Nem melhor, nem pior.. O fim de uma viagem.
Deus criou o Mundo. A Mentira criou o Homem.